segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

O Branco


Derrepente, tudo se fez branco. Fugiram os temas, os títulos, as linhas, as entrelinhas. Por mais que eu tentasse enxergar além da luz ofuscante, a única coisa que pude encontrar fora o branco. As idéias dispersaram-se como nuvens, tentei alcançá-las, porém não cheguei perto de tocá-las. Foram-se uma após outra sumindo em um céu infinito que de azul fez-se branco.
A folha ficou pálida, imersa em claridade. As letras perderam-se ou esconderam-se, decidiram ir. Com elas foram as frases, as estrofes, os poemas, as músicas, as crônicas, os contos, as histórias. Nem os pontos ou as vírgulas restaram. Adormeceram.
Tentei inutilmente encontrá-las, corri, busquei e cansei-me. Falei alto em pensamentos pedindo que regressassem, que acordassem, mas não voltaram. Não ouvi nenhum som de vozes, sílabas, palavras. Fiquei paralisado, imóvel, já não tinha o que dizer, a página continuou vazia, ouvia ao longe o som do tempo caminhando por entre ponteiros e números e seus passos eram firmes.
De súbito, ouvi o silêncio rasgando-se ao meio, pisquei os olhos e passei a observar através da brecha aberta. Vi cores, palavras e idéias fitando-me, nada mais era branco, tudo estava como antes, coisa alguma havia partido. Era eu quem estivera ausente, adormecido. Meus olhos estavam cerrados para o que diante de mim existia, pois distraído em sonhos brancos me detinha. Não percebia que as letras estavam ali contemplando-me. Não eram as palavras que fugiam, era apenas eu quem dormia e nos meus sonhos todas as cores eram brancas.
Karina Huerta